Hoje responsável pelos Cursos Esportivos da Secretaria de Esportes de São Bernardo do Campo e professora de Educação Física, Cleide superou dificuldades por ajudar a arbitragem feminina. Nascida no mesmo município e de família apaixonada por futebol, ela começou a apitar em 1977, após realizar curso de Dulcidio Wanderley Bosquilia, árbitro da federação na época.
"Iniciou como brincadeira", contou Cleide. E a primeira partida foi no Baetão, em jogo beneficente entre Escrete do Rádio (comandado pelo locutor Fiori Gillioti) e Lions Clube. Nos anos seguintes, passou pelos campos do futebol amador de ligas das cidades do Grande ABC.
A vida começou a mudar quando foi convidada para realizar o curso da Federação Paulista em 1982. "Depois, entrei no quadro em 1984. Daí, apitei um jogo de garotos que era preliminar de Santos e Corinthians no Morumbi, que estava com 60 mil pessoas", destacou.
Mas estar em estádio lotado foi alegria solitária. A luta para ultrapassar barreiras foi dolorosa para Cleide. "Surgiu a Silvia Regina e nós começamos apitar jogos no Estado, mas somente amadores. Era ambiente tipicamente masculino e difícil de entrar. Anos depois, o Rio (a federação carioca) montou um quadro com 20 mulheres e nós, que fomos pioneiras, ficamos para trás. Acho que o (José Maria) Marin (presidente da FPF na época e hoje mandatário da Confederação Brasileira de Futebol) não dava abertura", lembrou.
Foi então que ela deu preferiu a vida pessoal, com casamento e filho, e se afastou da arbitragem em 1985, retornando somente após nove anos. Quando voltou, na década seguinte, começou a galgar, junto com Silvia Regina, ingresso no quadro profissional da federação, que foi permitido apenas no fim da década de 1990.
"O que aconteceu de 1998 a 2001 foi tudo o que não ocorreu nos anos anteriores. O caminho se abriu para as mulheres, apesar de ter mais auxiliares e poucas centrais", salientou. "Fui a primeira árbitra a apitar um jogo profissional de Campeonato Brasileiro, em 98, na Série C, entre São José e Nacional."
Ela lembrou que o pagamento da federação melhorou e os testes físicos também. "A coisa ficou séria. Não apitava mais em qualquer canto. E não tinha mais diferenciação entre homens e mulheres", ressaltou. "Apitei muitos jogos da Série B do Brasileiro", completou.
Com 42 anos e mais três para apitar, ela optou pela aposentadoria em 2002. "Tinha vários afazeres fora a arbitragem e estava cansada. Preferi sair", justificou. Hoje, ela não lamenta não ter ganho mais destaque no cenário nacional. "Em 2002, era a melhor árbitra tanto que fui indicada e parei quando quis porque ainda tinha mais três anos. Fiz meu trabalho."
Tecnologia pode ter sentido dúbio
Os erros de arbitragem aparecem a cada rodada do Campeonato Paulista, mas para Cleide Rocha os juízes são injustamente massacrados. Segundo ela, a concorrência com as imagens da televisão deixa os homens de uniforme muito vulneráveis.
"Temos hoje diversas câmeras, que mostram diversos ângulos. Acho que teremos câmera dentro da bola", brincou. "Antigamente, os erros eram menos vistos. Hoje não, e todo mundo falha, sempre terá", avaliou.
Para Cleide, a federação tem de distribuir mais o poder do juiz. "Preferia que tivesse dois árbitros, um em cada campo. Acho que a partida fluiria bem melhor. Isso já foi tentado e me dei muito bem. Hoje, nós temos auxiliares, árbitros de fundo, mas a responsabilidade está em um só. O árbitro que decide. Isso precisa ser conversado", pediu.
Apesar de todo o esforço de Cleide e contar com Silvia Regina em trabalho na comissão da Federação, hoje são apenas três mulheres (Katiúcia da Mota Lima, Edilar Maria Ferreira e Regildênia de Holanda Moura) no quadro da Federação Paulista de Futebol, sendo que todas estão na categoria prata, que permite trabalhar somente em jogos no máximo da Série A-2.
"Hoje não têm árbitras em destaque na grande imprensa, são mais auxiliares. É uma pena", resumiu.
Causos dos anos de carreira dão tom de alegria
Além de a mãe ter sido constantemente ‘homenageada' por torcedores nos campos afora, Cleide Rocha tem alguns ‘causos' engraçado. Um deles aconteceu em Goiás, quando foi quarta árbitra de uma partida da Série A.
"Acho que era jogo do Goiás, não lembro bem. Antes de começar, fui pegar a assinatura do capitão, que era o Fernandão. Eles não se preocupavam em andar pelados. Mas quando me viu, saiu correndo todo envergonhado. Pior, que no fim do jogo, ele estava nu novamente quando voltei para pegar a assinatura. Outra vez, ficou com vergonha", contou.
Segundo Cleide, o único que não gostou muito da profissão foi o filho. "Ele assistiu apenas uma vez e não voltou mais. Acho que não gostou das críticas da torcida", brincou.
Fonte: Diário do Grande ABC
Cleide Rocha! Feliz em saber da sua linda história, qualquer dia um registro especial também no blog ESPORTE TERCEIRA IDADE, que você já fez parte em alguns registros de campeonatos que realizei e você estava. Parabéns!!! Um beijão da Irene da Rocha (Índia), moderadora dos blogs esportivos voluntários voltados às pessoas de meia e terceira idade.
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